Por Alexandre
Cumino
“A um médium é solicitado que conheça o mínimo
indispensável para que possa realizar as práticas de Umbanda e seus rituais.
Também é exigido que estude um pouco, porque só assim, entenderá tudo o que
acontece dentro de um templo de Umbanda durante a realização das giras de
trabalho.”
Rubens Saraceni [1]
A palavra “passe” tem origem no
Espiritismo, codificado por Allan Kardec, e traz a idéia de “passar” ou
“transmitir” algo a alguém. A doutrina codificada por Kardec tem base cristã e
encontra no Evangelho as muitas passagens em que Jesus cura as pessoas e
“expulsa” espíritos indesejados por meio da imposição de mãos. Algo que vamos
encontrar em muitas outras culturas como a egípcia, a grega, a celta, a
chinesa, a indiana ou em tradições indígenas e xamãnicas. Estudiosos do passado
e do presente se debruçam sobre os fundamentos científicos das técnicas de
“passe magnético”, desde Hermes Trimegistro, Fo-Hi, Asclépio, Pitágoras,
Hipócrates, Paracelso, Van Helmont, Mesmer, Du Potet e outros.
Na obra de Allan Kardec vamos encontrar
(A Gênese, Cap. XIV, 1:14, 15 e 18) a descrição dos “Fluidos” e sua
manipulação:
Os Espíritos atuam sobre os fluidos
espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas por meio
do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o
que a mão é para os homens...
Pode-se dizer, sem receio de errar, que
há nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se
confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros...
pensamento do encarnado atua sobre os
fluidos espirituais como o dos desencarnados; transmite-se de Espírito a
Espírito pelo mesmo veículo, e, conforme sua boa ou má qualidade, saneia ou
vicia os fluidos circundantes...
No “Passe Espírita” o médium manipula
estes fluidos por meio de técnicas que foram se desenvolvendo com o tempo. Aqui
no Brasil devemos, principalmente, a Bezerra de Menezes e Edgard Armond, o
método já consagrado e largamente utilizado em boa parte dos “Centros
Espíritas”.
A padronização dos passes e outras
práticas doutrinárias... foram providências adotadas na Federação Espírita dos
Estado de São Paulo para efetivar a unidade das práticas espíritas, assunto de
alta relevância, levado ao Congresso de Unificação realizado em 1947 nesta Capital.
Estas são as palavras que “prefaciam” o
título Passes e Radiações: Métodos Espíritas de Cura de
autoria de Edgard Armond, 1950.
Podemos dizer que o conteúdo deste
livro norteou e norteia até hoje o método e técnicas utilizadas no Espiritismo
Brasileiro, em que o “Passe Magnético” subdivide-se por categorias como P1, P2,
P3, P4. Além do Passe de Limpeza e da Auto Cura. A realização destes passes é
feita por qualquer pessoa de boa vontade que tenha estudado o método, para
algumas situações, no entanto é necessário certa sensibilidade ou dom
mediúnico. A maioria dos métodos é explicada por uma corrente de
energia/magnetismo e fluidos que estabelecem um circuito de forças entre
“operador passista” e consulente (assistido). Dentro do processo são definidos
alguns conceitos como a polaridade das mãos (direita = positiva, esquerda =
negativa) e os centros de força, denominados de chacras por influência
oriental, assim como a importância de um conhecimento básico sobre a fisiologia
do corpo material e espiritual.
“Quando o Espírito é de elevada categoria, possui
grande poder curativo, muito diferente e muito melhor que o que possui o
magnetizador encarnado.”
Edgard Armond [2]
O “Passe Umbandista” não é apenas um
“passe magnético” ou material e sim um “Passe Espiritual”, aplicado por um
espírito. Assim como Edgard Armond classificou diferentes métodos de aplicação
do Passe Magnético para diferentes necessidades, também os espíritos que se
manifestam na Umbanda aplicam métodos variados de acordo com a necessidade de
cada consulente, dentro dos variados recursos que cada espírito guia
entidade/mentor, possui. Sem esquecer que cada um recebe na medida de seu
merecimento e afinidade, podendo um encarnado bloquear uma ação positiva
direcionada a ele mesmo como conseqüência de sua postura mental. Pois muitos
merecem, mas não estão abertos emocionalmente ou psicologicamente para receber
o que a espiritualidade lhe oferece, por vários motivos como descrença,
irritação, mentalidade critica e posturas interesseiras desfocadas de um
objetivo espiritual.
O “Passe Umbandista”, para além de
“Passe Espiritual”, pode ser definido como a aplicação de um conjunto de
técnicas mágico-religiosas, além de explorar todos os recursos possíveis de
imposição de mãos, utiliza elementos e técnicas variadas e até inusitadas.
“Porém, enquanto nos centros espíritas usa-se o
passe magnético, nos centros de Umbanda também se recorre aos passes
energéticos, quando são usados diversos materiais (fumo, água, ervas, pedras ou
colares, etc.) que descarregam os acúmulos negativos alojados nesses campos
eletro-magnéticos... Nem sempre o que parece folclore ou exibicionismo
realmente o é. Se os mentores dos médiuns de Umbanda exigem determinados
colares de pedras, eles sabem para que servem e dominam seu magnetismo, assim
como as energias minerais cristalinas irradiadas pelas pedras. Ervas e fumo,
quando potencializadas com energias etéreas pelos mentores, também se tornam
poderosos limpadores de campos eletromagnéticos.”
Rubens Saraceni [3]
A finalidade é de alcançar maior êxito de
acordo com as necessidades, o merecimento e os recursos disponíveis. Cada
entidade tem a liberdade de aplicar a técnica que lhe aprouver, desde que
dentro dos limites de ética, bom senso e respeito. Embora haja um conjunto de
métodos e recursos característicos da Umbanda. Muitas entidades, em especial os
pretos velhos, por exemplo, realizam o benzimento, que se distingue do “Passe
Magnético”, por empregar uma ação mais relacionada ao poder do verbo, elementos
e simbologia, considerada “Magia Popular”. Também é possível identificar
métodos complexos de Magia Riscada (Magia de Pemba), abrindo espaços mágicos
(Pontos Riscados) que muitas vezes lembram Mandalas do Hinduismo ou mesmo
Fórmulas Cabalisticas da Real Arte Simbólica e Mística Hebraica entre outras práticas
de Ocultismo e Hermetismo. Entre os elementos mais utilizados podemos
identificar velas, água, óleo, pedras, essências, fumo, ervas, tecidos,
ponteiros e a citada pemba (giz utilizado para traçar símbolos), dentro de um
ambiente de terreiro, mágico-religioso por natureza. Nos métodos se observam
rezas, orações, preces, evocações, invocações, determinações e fórmulas
mágico-religiosas associadas a banhos, defumações, oferendas e outros.
Todos estes recursos estão mais ou
menos associados ao “Passe Umbandista”, no qual se cria um ambiente de Som,
Cores, Aromas e Luzes, capaz de inebriar de forma positiva todos os cinco
sentidos do consulente a fim de conduzi-lo a certo estado de consciência
desejado.
Durante o “Passe Umbandista” observamos
a entidade espiritual fazer a imposição de mãos, segurar velas direcionadas aos
chakras ou traçando movimentos no ar, colocam colares (guias) no pescoço do
consulente ou o colocam dentro da mesma em circulo no chão. Atiram ponteiros em
pontos riscados, fazem gestos rituais e movimentos com os pés e mãos que nos
faz crer na “Magia Gestual”. Em meio a tantos recursos, que nos encantam e
fascinam, nos chama a atenção, em especial, o estalar de dedos, bem
característico em quase todas as linhas de trabalho. Muitas pesquisas e
especulações já foram realizadas sobre esta prática, entre elas são
identificadas as energias que existem na ponta de cada um dos dedos da mão, que
são pequenos chakras ou vórtices de energia (“chacrinhas”), e, o “choque”
vibratório desencadeado no ar quando o dedo médio estala sobre a região da mão
chamada de “monte de Vênus”, causando vibração astral e sonora o que desperta
certa energia dentro do campo em que está atuando. Este “Estalar de Energias”
pode assumir contextos vaiados de acordo com o que esteja associado, por meio
do pensamento ou movimentos. Além deste contexto pode-se usar o estalar de
dedos como um simples gesto de descarregar as energias absorvidas pelas palmas
das mãos. Um caboclo ou outro espírito guia eleva sua mão ao alto (ou ao lado)
buscando certa energia que será irradiada ao consulente, num movimento rápido,
ao mesmo tempo em que transmite esta energia positiva, retira os eflúvios
negativos e os “descarrega” com um estalar de dedos. Os movimentos
longitudinais, transversais e circulares também foram descritos na obra de
Edgard Armond, em que: Os passes longitudinais movimentam os fluidos,
os transversais os dispersam e os circulares e as imposições de mãos os
concentram, o mesmo sucedendo com o sopro quente. Este último merecendo
ainda um estudo à parte.
No entanto pode-se associar
procedimentos mais ou menos magísticos com os mesmos, ou seja, a relação entre
estalos e números com o poder de realização que cada um deles possui,
aplicando-se seqüências de estalos que podem variar, por exemplo, de
2x3,3x3,4x3 ou ainda estalos que desenham formas geométricas no ar. Lembrando
que a aplicação de símbolos associados a idéias e intenções, com suas
respectivas invocações é a mais explicita “magia simbólica”, encontrada nas
mais variadas culturas. Assim seqüências de estalos “desenham” no ar, cruzes,
estrelas e círculos; firmando ou estabelecendo pontos e espaços vibratórios,
aos quais podem ter função nesta realidade ou abrir portais para outras
realidades.
Muito mais poderíamos escrever sobre o
“Passe Umbandista” e seus recursos, no entanto não pretendemos em um único
artigo esgotar o que é inesgotável. Fica aqui um comentário final sobre a
importância do estudo, não para complicar o que é realizado de forma tão
simples por nossos guias de Umbanda, mas com a finalidade de compreendermos o
que eles realizam, com a consciência de que eles sim estudam e estudaram muito
para realizar este trabalho espiritual. Não estudamos por um movimento do Ego
ou para substituir a presença dos mesmos, mas para lhes oferecer maiores
recursos psíquicos, espirituais e materiais. Estudamos para ver o quanto somos
ainda “neófitos” (aprendizes) nesta senda, em que Caboclo (a), Preto Velho (a),
Baiano (a), Boiadeiro (a), Marinheiro (a), Cigano (a), Exu e Pomba Gira são
nossos Mestres.
Notas:
[1] Rubens Saraceni. Código de Umbanda. São Paulo: Ed. Madras, 2006. P.79
[1] Rubens Saraceni. Código de Umbanda. São Paulo: Ed. Madras, 2006. P.79
[2] Edgard Armond. Passes e Radiações:
Métodos Espíritas de Cura. São Paulo: Ed. Aliança, 1997. P. 85
[3] Rubens Saraceni. Código de Umbanda.
São Paulo: Ed. Madras, 2006. P. 101
Nenhum comentário:
Postar um comentário