Os
ciganos são poeticamente denominados “Filhos do Vento”, pois seu povo possui
cultura própria, rica e se encontra disperso por todo o mundo, em ampla
liberdade. Profundos conhecedores dos caminhos, vêm recolhendo conhecimentos de
todas as culturas e tradições por onde passam, tendo estado, em suas andanças,
por diferentes países, enriquecendo a sua cultura. Vê-se assim a enorme gama de
ensinamentos que os ciganos colheram ao longo de suas vidas.
Em sua
história, o povo cigano sempre despertou muita curiosidade por seus hábitos e
costumes muito diferentes daqueles mantidos pelas populações dos lugares pelos
quais passavam. A Igreja da época, durante muito tempo, condenou as práticas
que consideravam sobrenatural, como a cartomancia e a leitura das mãos, fazendo
com que eles sofressem discriminação e perseguição. Com o tempo, a curiosidade
deu lugar ao preconceito e à animosidade. Foram rotulados injustamente como
ladrões, feiticeiros e vadios. Em alguns locais chegaram a ser mantidos como
escravos, sendo tratados com bastante crueldade. Mesmo assim, este povo
continuou sua marcha sempre em busca da liberdade.
Sabe-se
que os espíritos ciganos gostam de festas, que gostam de ser recebidos em meio
à fartura e aos seus companheiros de caminhada, o que confirma seu arquétipo
próspero, alegre e familiar. Eles sempre dão o exemplo de que ao repartirem
toda fartura, dão tudo que possuem em troca da liberdade. Esse povo canta e
dança tanto na alegria como na tristeza pois para o cigano, a vida é uma festa
e a natureza que o rodeia a mais bela e generosa anfitriã. São cheios de
energia e grande dose de passionalidade.
Existem
diversas versões sobre a origem do povo cigano e sobre como eles se espalharam
pelo mundo. Contam alguns autores que eles surgiram na Índia, outros que eles
vieram do Egito, outros ainda dizem terem os ciganos se desenvolvido
principalmente na Europa Oriental, França e Espanha. O que se sabe é ainda hoje
existem diversos grupos ciganos espalhados por todo mundo, nas mais diversas
áreas de atuação.
O povo
cigano, na Terra, tem seus rituais específicos e cultua a natureza, os astros e
ancestrais. São peculiares dentro do seu próprio código de ética, honra e
justiça, senso, sentido e sentimento de liberdade, contagiando qualquer outro
sistema. Como encarnados, eles não têm uma religião definida, se adaptam
facilmente à religião dos países onde permanecem. Entretanto os ciganos cultuam
seu Deus, conhecido entre eles como Devel. Acreditam na reencarnação. Por isso,
para eles a morte não significa o fim. Realizam nos funerais o que chamam de
banquete fúnebre, no qual se celebra o aniversário da morte de uma pessoa.
Neste dia, a abundância do alimento e das bebidas exprime o desejo de paz e
felicidade para aquele que se vai.
Atuam
fortemente sobre o campo da magia, através da interpretação de oráculos e
vibrações pessoais. Outra característica marcante desse povo é a vidência, para
a qual utilizam um elemento magístico para atuar sobre o tempo, a memória, os
conhecimentos e a cura. Por meio das cartas ou outros suportes materiais como
bolas de cristal, estralas do mar ou simples copos de água, o futuro, o
presente e o passado desdobram-se sob suas vistas. Utilizam ainda de outros
recursos para ajudarem aqueles que os procuram em busca de auxílio, como ervas,
chás e toques curativos.
Dentre
os encantos ciganos, um dos mais conhecidos é a leitura das mãos. Porém é
importante saber que para esse povo, o verdadeiro cigano, antes de ler a mão,
lê os olhos das pessoas (os espelhos da alma) e toca seus pulsos (para sentir o
nível de vibração energética). Só então é que interpreta as linhas das mãos. A
prática da Quiromancia para o Cigano não é um mero sistema de adivinhação, mas,
acima de tudo um inteligente esquema de orientação sobre o corpo, a mente, o
espírito, a saúde e o destino.
É
muito comum ver os ciganos trabalharem com moedas antigas, fitas de todas as
cores, folhas de sândalo, punhal, cristal, lenços coloridos, tacho de cobre ou
alumínio, cestas de vime, pedras coloridas, areia de rio, vinho, perfumes,
baralho, espelho, dados, dança e música, como vemos através do som de seus
violinos, cítaras, violas, pandeiros e outros instrumentos característicos, os
quais são sempre instrumentos magísticos de trabalho. Os ciganos trabalham com
suas magias por força de seus próprios mistérios, olhando por dentro das
pessoas e dos seus olhos.
Ainda,
é importante saber que esses espíritos são profundos conhecedores sobre o uso
de ervas e cristais, banhos de todos os tipos, o uso curativo das cores,
imposição de mãos, magnetizações, harmonização emocional, telepatia, hipnose,
entre outras técnicas terapêuticas alternativas, que fortalecem energeticamente
o indivíduo, ajudando muito nos tratamentos médicos convencionais.
Os
médiuns das entidades ciganas devem estar preparados para facilitar o
trabalho da entidade. Isso quer dizer, devem estudar, aprimorando seu
conhecimento. Se a entidade optou em trabalhar com oráculos (baralho cigano,
tarô, runas) cabe ao médium estudar um pouco esses oráculos. Se a entidade
trabalha mais com magias, o médium deve aprender a conhecer essa arte, para
poder ser um médium magista mais preparado. Se a entidade quer fazer trabalhos
de cura, o médium deverá conhecer mais sobre as terapias alternativas,
fitoterapia, fluidoterapia, magnetismo, etc. O trabalho é conjunto, troca, dedicação
e disciplina.
As
festas ciganas devem acontecer com bastante fruta, todas que não levem espinhos
de qualquer espécie, podendo se encher jarras de vinho tinto e sangria.
Utilizam-se pães, muitas flores silvestres, rosas, velas de todas as cores. Os
incensos também são importantes na realização de seus passes espirituais.
Observam também as diversas fases da Lua em seus encantamentos. Entretanto, o
mais importante para o Povo Cigano é interagir com a Mãe Natureza respeitando
seus ciclos naturais e sua força geradora e provedora.
Para o
povo cigano a simplicidade é uma das qualidades mais difíceis para o homem
adquirir, bem como o amor de ordem cósmica. Neles os ciganos são exímios
mestres. Essas são as mais poderosas magias. O amor cura, supera erros,
cicatriza feridas da alma, perdoa o pior erro, ensina, dulcifica e equilibra.
Liberdade e Alegria, reconhecimento da Vida em Comunidade, do Teto e do Espaço
Sagrado, do Encanto e da Força da Natureza, da Magia e da Reza são
sentidos e atributos ensinados pelos Ciganos que se manifestam através do dom
mediúnico em nossa querida Umbanda. E com o encanto de suas danças, seus cantos
e seus movimentos é que envolvem cada vez mais irmãos para dentro do coração
pulsante da Umbanda.
A
corrente vibratória de trabalho dos espíritos ciganos tem relação com as cores
estilizadas por eles em seu culto. Os ciganos usam muitas cores em seus
trabalhos, mas cada cigano tem sua cor de vibração no plano espiritual. Essas
cores são apresentadas em sua prática caritativa através de velas, roupas, etc.
As saias das ciganas são sempre muito coloridas, confome a sua cor de trabalho.
Normalmente,
na Umbanda, falam uma mistura de castelhano com português, expressando-se com
muita vitalidade, de maneira teatral. Adoram falar e contar histórias.
As
ciganas não admitem mostrar pernas em público, porque, ao contrário do que
imagina, a moral conservadora com a qual foram criadas não permite tal
exposição. Por isso, a saia das ciganas deve ser sempre comprida e rodada. Já
com os ciganos, é através de seus paramentos que se identifica sua hierarquia
dentro da tribo, por isso estão sempre impecavelmente trajados, sustentando
notáveis adereços em ouro.
As
danças ciganas são evocações das forças místicas. Lembram a fluidez dos ventos,
a sinuosidade das águas, o oscilar das chamas. Tem seu ritmo regido pelo vigor
de pandeiros, palmas e batidas do pé, numa vibração única que os religam às
raízes, imantando todos por onde passa a energia. Dentre as danças conhecidas
podemos citar:
Bater
Palmas e Pés: Bater palmas e pés é um ato para saudar as
alegrias da vida e chamar os espíritos dos antepassados, sempre seguindo o
ritmo da música.
Dança
do Leque: Dança do elemento ar. Representa o amor, a
sensualidade, a sedução, a limpeza e o poder. Da maneira que se abre pode
representar as fases da lua e da mulher; é um poderoso instrumento de limpeza
energética, magia para a cura e sedução. Sendo assim, está constantemente nas
mãos espertas de uma cigana, atraindo a atenção para seu mistério e poder.
Dança
da Rosa: Elemento terra. Representa o amor, a beleza, a
conquista, sedução e a sensualidade. A rosa é a beleza interior e a beleza
exterior. A rosa vermelha na boca dos ciganos é para presentear a mulher que
está envolvida na dança.
Dança
das Fitas Coloridas: Elemento água. Representa as lágrimas de alegria
e tristeza derrubadas pelo povo Cigano. Não o lamento, mas a comemoração.
Representa a limpeza, alegria e infantilidade. Dançar com fitas é quase uma
brincadeira de criança, alegra qualquer tipo de ambiente, festeja os
nascimentos e casamentos, os movimentos das fitas rodopiantes manifestam o
ritmo da vida e a alegria de fazer parte dela.
Dança
do Véu: representa o elemento ar. Expressa a leveza do corpo
e a sensualidade.
Dança
das Tochas: Mostra a fúria e o poder do fogo através das
tochas acesas ou candelabros, que reverenciam este elemento. Representa a
purificação e a limpeza pelo fogo.
Dança
do Pandeiro: Dança dos quatro elementos, denota a alegria e
sugere uma festa. Serve também para purificar o ambiente. O pandeiro traz a
alegria do sol, saudando-o com inúmeras fitas coloridas, representando seus
raios protetores e vivos. Como todo instrumento que faz barulho, ele tem como
função expulsar os maus espíritos ou energias negativas, abrindo caminho para o
povo festejar. Sua mensagem é mover, transformar o que está parado em ritmo,
revigorar o nosso corpo com a alegria e o calor da dança, assim como o sol faz
conosco. As fitas vêm representar através das cores, os pedidos ou bênçãos.
Dança
dos Sete Véus: Os véus coloridos representam as sete cores do
arco-íris, simbolizando o amor e a sensualidade. As cores dos véus representam
os quatro elementos.
Dança
do Punhal e da Espada: Elementos ar e terra. Significa lutas, disputas,
fúria e pode simbolizar a limpeza do ambiente e do corpo. Representa o corte, a
força e a limpeza.
Dança
do Lenço: Representa união, casamento e amor. O lenço,
preso delicadamente nos dedos da cigana, envolve-a de mistério e aos poucos
revela seus desejos, sentimentos e sonhos, que são movidos pelo deslizar do
lenço pelo ar, no transe da música, livre como o vento e infinito como o céu. O
lenço também transforma e limpa o ambiente, pode representar pedidos ou coisas
da vida que queremos mudar ao dançar.
Dança
do xale: representa o mistério e a magia do elemento fogo.
Dançar com o xale representa agradecer todas as dádivas ao criador, a sua
força, o poder de ser mãe, o poder de seduzir o seu amor e também proteção e
família. É usar toda poesia, força e magia. Uma cigana, ao dançar com o xale,
nunca deixa outra pessoa pegá-lo ou derrubá-lo, pois ele é a sua essência
feminina.
Bom
irmãos, encerro o texto de hoje dizendo que sobre os encantos e magias dessas
entidades na Umbanda ainda há muito que se pesquisar e aprender. A alegria dos
ciganos não só inunda nossos corações de felicidade, como também é fundamental
para a firmeza dos trabalhos realizados por eles. O povo cigano traz o brilho
das estrelas em seu sorriso, a leveza das ações, conforme os passos de uma
dança e a sensibilidade expandida em nossos corações. Contudo, sabe que quando
chega a meia-noite, só se pode amanhecer. É nisso que os ciganos acreditam
desde seus primeiros passos. Está aí o segredo de seu sorriso fácil e de seu
porte altaneiro: a certeza da vida infinita, na qual entendem que, por pior que
sejam as dificuldades, as luzes da alvorada destroem todos os sonhos maus, os
empurrando para longínquos lugares, fora do alcance de todos os bons corações.
Salve
o povo Cigano!
Com
amor,
Nise.
TEXTO EXTRAIDO DE MATERIA PUBLICADA NO BLOG CENTRO ESPIRITA DE ESTUDOS NOSSA CASA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário