Preleção Marilia
Eu tive certa dificuldade de encontraram
tema para essa preleção. Confeço que poucas foram as idéias, mas que muita foi
a preguiça de estudar. Talvez a preguiça tenha sido um sinal do meu cérebro
para que eu desse mais atenção pra mim. Talvez eu esteja apenas justificando
uma demonstração prática de um dos meus maiores defeitos. Seja qual for, foi
graças a preguiça de pesquisa que eu tive a chance de olhar mais pra mim.
Meu objetivo inicial era escrever algo
sobre minha trajetória aqui no terreiro, sobre como esse pouco mais de 1 ano
transformou a minha vida mas, acabou sendo uma jornada bem maior que isso.
Escrever foi só um dos últimos passos. Até porque eu só fiz isso ontem.
Esse fim de semana eu fui confrontada
pela vida e desafiada a olhar pra mim. Isso me rendeu uma série de crises de
choro, uma recaída aos impulsos antigos de beber pra fugir da dor, uma crise de
ansiedade (que me custou um dia de trabalho) e um tempo pra parar e olhar pra
esse turbilhão negativo e tentar tirar algo de bom dele. E isso não tem nada a
ver com Umbanda, certo?
Errado!.
Foi parando pra pensar em tudo isso que
eu percebi, mais uma vez, a força da Umbanda na minha vida, e mais uma vez eu
me dou conta do tamanho da minha gratidão a essa religião milagrosa e a todos
os trabalhadores dessa casa, encarnados e desencarnados, que sempre me ensinam
maravilhas, das mais simples as mais complexas, e que me acolhem de modo que me
fazem ter a certeza de que eu tenho um lugar no mundo, e que sou digna dele. Esse
lugar é aqui.
Aqui eu aprendi minha primeira lição de
fé, mesmo que já tenha lido e ouvido a respeito uma porção de vezes antes. Eu
finalmente entendi que fé é mais que acreditar, é confiar de tal forma que sei
no meu coração que mesmo que eu não possa ver nenhum chão sob os meus pés eu
sou capaz de trilhar o meu caminho. Aprendi também a ser grata, e sei que
preciso aperfeiçoar esse aprendizado de forma pratica. Mesmo assim, hoje eu
olho o mundo de uma forma tão linda e sei que só tenho essa capacidade por ser
grata as possibilidades de olhar.
Aprendi a ser responsável (pelo menos a
ser mais responsável do que antes), aprendi que caridade é mais que esmola, e
que na maior parte das vezes, nem envolve dinheiro. Aprendi a orar e o poder
que esse ato simples tem em nossas vidas. E aprendi que, na verdade, a gente nunca para
de aprender. E sabendo que, quanto mais se sabe, mais se precisa aprender e
maior é a nossa responsabilidade como o saber é que, aos poucos eu venho
aprendendo a errar. Não que eu não errasse antes, mas eu fingia que não e isso
foi, e ainda é, meu maior fantasma. Aos poucos ele tá diminuindo e isso é tão
maravilhoso que não sou capaz de expressar.
Tudo isso me faz grata mais uma vez.
Grata a Deus, que me deu a capacidade de ouvir, aprender e agir. E grata a
todos que se dispuseram a falar comigo e me acolher, que me proporcionaram o
sentimento de amor mais puro que já senti, que me ensinaram e ensinam sempre a
não desistir.
Eu sei que ainda falta muito chão pra
eu andar nessa estrada, que o amor próprio ainda é meu maior obstáculo
auto-imposto e que, se fosse pra ser fácil chamava brigadeiro e não vida
(lembrando que não sei fazer brigadeiro).
No fim, só queira dizer que amo cada um
de vocês, amo nossa fé e que tô pronta, mesmo não estando, pro que der e vier,
pois tenho vocês, meus povo, as entidades, os Orixás e Deus, todos do meu lado.
Obrigada
por tudo!
Preleção
– 08/05/2019.